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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

MUDANÇAS DOS OUTROS





Abra o olhar para a mudança do outro

 
 
 
Peixe mudando de aquário - Foto: GettyImages
 
 
 
Para Fernanda Pompeu,
a 'mania geral de pôr etiquetas nas pessoas'
é prejudicial para quem está mudando
 
 
 
 
Mente Aberta

Trocando de janela


 

 
 
 
A maioria de nós acredita que mudar é bom.
 
Pois faz parte da dinâmica da própria vida. Somos uma sucessão de outros: a senhora é a outra da jovem que é a outra da menina.
 
No entanto, tenho observado que a velocidade das mudanças varia.
 
Sinto que mudamos antes que as pessoas a nossa volta percebam.
 
Tanto que, algumas vezes, tenho que gritar: Mas eu mudei, não sou a mesma Fernanda que você conheceu!
 
 
 
Tenho um amigo que foi designer gráfico por mais de 20 anos.
 
Uma manhã, ele despertou com a decisão de se tornar um iluminador.
 
Queria trocar as formas no papel pelas formas de luz e sombra.
 
Estudou, estagiou, foi ao mercado. Já iluminou algumas peças teatrais.
 
Mas o celular dele continua tocando com gente atrás do diagramador de livros.
 
Outro dia, ele ouviu a seguinte explicação: “É mesmo! Você disse que mudou de ramo. Mas estou tão acostumado com você designer, que é difícil vê-lo como iluminador”.
 
 
 
O que nos cega para o quanto o outro mudou é a mania de carimbarmos as pessoas.
 
Fulano é assim. Sicrana é assado. Fulano é jardineiro. Sicrana é cozinheira.
 
Se eles resolverem trocar de ofício terão que trabalhar dobrado.
 
Primeiro: para conhecer e se adaptar à nova escolha.
 
Segundo: para convencer amigos, familiares, clientes de que mudaram. E que podem ser eficientes, até excelentes, nas recentes atividades.
 
 
Mesmo os famosos - cujas vidas são monitoradas e publicitadas - são carimbados.
 
É o caso do Chico Buarque escritor. Quantos, inclusive eu mesma, perguntam:
 
- Por que um músico e letrista maravilhoso se meteu a escrever romances?
 
- Por que o cara que fez clássicos do cancioneiro se aventura no fechado e maldoso mundo da literatura?
 
Uma vez questionado, ele respondeu: “Porque eu quis mudar”.
 
 
Neste Carnaval, em que tive tempo para dar tratos à bola, resolvi refletir acerca da mania geral de pôr etiquetas nas pessoas, como se elas fossem fotografias legendadas.
 
E o quanto tal prática é prejudicial a quem está mudando. E o quanto, também, faz a gente perder oportunidades.
 
 
Outro domingo fui furar a parede do meu banheiro para pregar um espelho.
 
Desastre.
 
Acertei um cano e a água esguichou como se o Cantareira estivesse com 100% da capacidade.
 
Fechei o registro.
 
Para quem ligar num domingo?
 
Chequei minha agenda e só tinha o número do chaveiro.
 
Telefonei na esperança que ele me desse uma indicação.
 
Daí ouvi: “Eu posso ir. Deixei de ser chaveiro, hoje sou encanador. Aliás já havia avisado, mas a senhora na certa esqueceu”.


Fernanda Pompeu


Cronista nas horas vagas e de trabalho. Melhor dito, uma webcronista. No blog Mente Aberta, do espaço "Inspire-se", ela procura incentivar os leitores a pensarem e agirem fora das caixinhas. Isso porque inspiração, criatividade, insights e respeito às diferenças precisam de oxigênio para prosperarem.         
 

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